#SomosFortes



terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Entrevista ao Prof. Zé Carlos

Em entrevista concedida ao site oficial do clube, o Prof. Zé Carlos fez o balanço desportivo da época 2021-2022, assim como da época atual até ao momento.




  Prof José Carlos Coelho, Coordenador Técnico para o Futebol 2022-23


FCF- Na época passada o Prof. Zé Carlos recebeu o convite da Direção do FCF no sentido de tomar conta dos destinos da Equipa Sénior como Treinador - principal, sendo que o fez a partir da 9ª jornada. Como surgiu o convite e o que o levou a aceitar este projeto?


PJC- Este convite surgiu através do Sr. Alves, presidente na altura do clube, e também do Sr. Queirós. Foram as pessoas que me abordaram. Sensibilizou-me a maneira humilde e honesta como colocaram a situação do clube e da equipa.


FCF- Como encontrou a equipa e que medidas implementou para alterar o que estava, no seu entender, menos bem?


PJC- Não encontrei uma equipa, encontrei um grupo de jogadores, cada um jogava por si, sem regras, sem qualquer plano de trabalho e compromisso. Taticamente e fisicamente muito fraco, não apresentava qualquer tipo de plano de trabalho efetuado. Tecnicamente tinha alguns elementos com alguma qualidade. Mentalmente um grupo destroçado, com os níveis de confiança a zero. Encontrava-se na tabela classificativa em último lugar, só com um ponto conquistado, com 5 golos marcados e 26 sofridos. Encontrei um grupo muito pior do que aquilo que imaginava. Mas no meio daquele grupo encontrei um grande capitão e acima de tudo um grande homem, o Flávio Fonseca, que foi peça importante para conseguirmos "endireitar" o grupo. Tive de começar tudo do zero, quer na reorganização de toda a estrutura de apoio, quer na planificação de treinos. No fundo tive que fazer uma pré-época, já com o campeonato em andamento (9ªJornada), portanto já com o comboio a todo o vapor. É claro que tudo isto foi muito complicado, correndo muitos riscos a nível físico e também organizativos e logísticos. As dinâmicas e exigências de treinos / jogos aumentaram e com isso trouxeram a queda / desistência de uma grande parte dos jogadores existentes no plantel. Conseguimos depois reforçar a equipa com jovens jogadores e com hábitos de trabalho, mais disponíveis mentalmente para as exigências solicitadas. Nesta fase difícil, também foi decisiva a intervenção e o apoio orgânico do clube, principalmente do presidente - Sr. Alves, porque foi preciso mudar mentalidades e determinados vícios enraizados e adquiridos. No fundo, tivemos que "partir muita pedra".


FCF- Quais as dificuldades sentidas ao longo da época transata?


PJC- As dificuldades que encontrei foram o que disse atrás, um grupo dividido em subgrupos, níveis de exigência muito baixos, sem hábitos de trabalho, sem cultura de exigência, desmotivados e desacreditados. Dos muitos anos de trabalho que tenho no futebol, este foi dos mais difíceis e complicados que tive até hoje.


FCF- Acha que as mudanças que implementou obtiveram o resultado esperado?


PJC- A classificação final fala por si só. Acabamos o campeonato em 14° lugar, entre 18 equipas, com 29 pontos. Quando peguei na equipa (9ªJornada) como disse anteriormente, estava no último lugar, com um ponto.


FCF- Que resultados foram obtidos?


PJC- Conseguimos acabar a época com uma dinâmica forte, capazes de discutir os jogos em qualquer campo, com qualquer adversário, olhos nos olhos, sem receios, com muita confiança e com uma evolução tático / técnica e principalmente mental, muito forte. Terminamos a época, como foi dito anteriormente, em 14° classificados, com 29 pontos obtidos. Num campeonato de 18 equipas, conseguimos ser ainda o 11° ataque com 49 golos marcados e a nível de golos sofridos não fomos os últimos, ainda ficaram cinco equipas atrás de nós. Para quem pegou numa equipa (9ªJornada) que estava em último, com um ponto, tinha o pior ataque (5 golos) e a pior defesa (26 golos) sofridos, só tem que se sentir orgulhoso e feliz pelo trabalho realizado. Posso até dizer que este trabalho realizado foi mais difícil que pegar num candidato ao título e ser campeão.


FCF- Depois de conhecer o Fontelas e a sua realidade no âmbito da Divisão de Honra Distrital o que lhe parece ser o caminho ideal a seguir no futuro?


PJC- O caminho a ser seguido pelo clube, é exatamente este que nós estamos a seguir, ou seja: apoiar e desenvolver os jovens do nossa região, dar oportunidades a todos os jovens que queiram continuar a evoluir no escalão sénior, num campeonato muito competitivo (AFVR), com clubes e jogadores muito experientes e maduros. O nosso objetivo é colocá-los a jogar, com uma exigência forte, mas com grande acompanhamento e carinho, sem pressão de obter resultados a qualquer preço. O mais importante é e será sempre que joguem num ambiente de confiança e respeito pelo seu desenvolvimento psicomotor e competitivo, sem queimar qualquer etapa. Que tenham um grande respeito e compromisso pelo clube e pelo grupo de trabalho. Fundamentalmente que cresçam e se divirtam a jogar futebol mas sempre com grande respeito e compromisso, pela orgânica que é o futebol. Eu sou daqueles que acredita muito nos jovens, o futuro está nos jovens e o futuro dos clubes passa por aí. Enquadrá-los e fazer deles melhores pessoas e melhores desportistas. Não ter receio de lhes dar oportunidades, de arriscar, sabendo nós que com isto corremos mais riscos de perder mais vezes, de falhar mais vezes, mas é um risco calculado e vale muito a pena passar por ele. Neste momento já temos uma melhor organização no clube, que nos permite dizer que o futuro será mais risonho, já começa aparecer um retorno, já começa aparecer uma luzinha ao fundo do túnel. Hoje a nossa equipa júnior já trabalha interligada com os seniores, quer na sua parte técnica / tática, de planeamento, quer no processo de aprendizagem dos jovens, que já começam aparecer e participar numa fase de mais exigência, na equipa seniores, fazendo que num futuro próximo o clube e estes atletas serão mais capazes para desempenhar as suas funções com mais competências.


FCF- Passando à época em curso. A Direção propôs-lhe continuar à frente da equipa sénior e paralelamente tomar conta da coordenação técnica dos diferentes escalões de futebol do Clube. Que nos tem a dizer sobre este novo projeto onde inclui os escalões sénior e de formação?


PJC- Este é um projeto muito importante, do meu ponto de vista. Um projeto arriscado, mas que pode servir para alavancar o clube, torná-lo mais conhecido, mais competitivo, mais dignificante e importante no nosso panorama desportivo. Sermos capazes de tornar o clube unido, sem divisões de escalão, neste caso entre os juniores / seniores. Não ter receio de apostar verdadeiramente nos nossos jovens, quer eles tenham já idade sénior, quer tenham idade Júnior. Fazê-los crescer numa exigência maior, num patamar onde as dificuldades são muito mais elevadas. Fazer ver ao nosso panorama desportivo que existem jovens de muita qualidade e que podem e devem ser potenciados, sem receio de qualquer espécie. Eles serão o presente e o futuro dos clubes em particular, e do próprio desenvolvimento das competições em geral.


FCF- A Direção também lhe propôs a escolha da equipa técnica, em especial do treinador principal para a formação. Que nos diz sobre isso?


PJC- Sim é verdade, isso faz parte para desenvolver o próprio projeto. O mesmo só podia avançar no meu ponto de vista, com a escolha do técnico que iria assumir a responsabilidade técnica da equipa dos juniores. Teria que ser uma pessoa que se identificasse com o grupo e com o projeto, que se identificasse com as ideias base, que a planificação e orientação dos microciclos / mesociclos seguisse muito o modelo de jogo e de treinos, que é elaborado no plano dos seniores. Escolhemos dar oportunidade a um jovem, que nos parece ter qualidades necessárias para desenvolver este trabalho. Um jovem treinador em quem eu acredito e confio, sabendo que é a primeira vez que orienta o escalão de juniores, mas é uma pessoa humilde, que sabe ouvir, e está recetivo a aprender, tem formação académica e tem o primeiro nível de treinador. Estarei cá sempre para o ajudar, vou fazer aquilo que também fizeram comigo, quando comecei a minha carreira de treinador. Acredito muito no trabalho e nas suas capacidades. Só lamento a saída do Presidente da altura (Sr. Alves), pessoa que não conhecia mas que tive o prazer de conhecer e verificar que se trata de um grande profissional, acima de tudo um homem de grande carácter e de compromisso. Foi uma grande perda para todos e acima de tudo para o clube a sua saída de presidente.


FCF- Que ações implementou para integrar a formação no Plano de Transição dos jogadores mais jovens para a também mais jovem equipa sénior da distrital?


PJC- Os jogadores juniores estão a ser paulatinamente enquadrados nas dinâmicas da equipa sénior, quer da parte dos treinos, quer da parte da competição. Porque acreditamos que esta é a maneira mais correta e assertiva para desenvolver as suas competências físicas, técnicas / táticas. Não existe e não vai existir qualquer tipo de pressão para que eles possam obter resultados imediatos. Tudo será feito para que tenham a maior tranquilidade possível, para que possam crescer /evoluir para patamares mais elevados e exigentes, sem quebras de confiança.


FCF- Como tem decorrido a, digamos, "relação" entre a equipa sénior e a integração da formação?


PJC- Quando se inicia qualquer atividade que seja, existe sempre alguma desconfiança, alguns desencontros de ideias. Quando as pessoas não estão habituadas a níveis de exigência altos e por vezes olham também muito mais para o seu umbigo do que efetivamente para o desenvolvimento do coletivo e mais concretamente para a coletividade. Olham mais para a luz, quando o segredo está na sombra do palco. Temos de saber criar mecanismos para efetivar os respetivos processos. Num projeto desta exigência é preciso quebrar muitas barreiras, para se ter sucesso nisto é preciso que todos trabalhem para o mesmo objetivo e por vezes isso é muito complicado, porque toda a gente olha muito para a luz. Neste momento posso dizer que o FC Fontelas, na minha modesta opinião e alicerçada na experiência de muitos anos na carreira do desenvolvimento desportivo, arrancou com um projeto pioneiro / corajoso e que no futuro trará retorno, vantagem para o desenvolvimento do próprio também o desenvolvimento da própria modalidade no distrito. As pessoas vão começar a olhar para os nossos jovens de outra forma. E claro que isto não vai ser nada fácil, porque existem muitos vícios / barreiras que é preciso quebrar. Eu acredito que este é o caminho do sucesso de um futuro próximo.


FCF- O futebol passou a contar esta época com a ajuda do Sr Manuel Barros como seu Diretor Desportivo. Foi uma mais valia para a modalidade?


PJC- O clube precisava de um Diretor Desportivo, mas não um Diretor Desportivo só de nome, que depois na prática não tivesse competência para efetivamente atuar como tal. O Barros surge neste projeto porque em primeiro lugar é um profissional de mão cheia, tem várias valências e é competentíssimo. E experiência no dirigismo, como Presidente do CCPAD. Depois, é um dos poucos amigos verdadeiros que tenho, crescemos juntos. Pessoa honesta, frontal e de grande compromisso e cumplicidade. Para mim, foi a melhor aquisição que o clube podia ter feito. Estou muito satisfeito e agradecido por o ter comigo a trabalhar. Posso mesmo dizer que ele já fez mais neste pouco tempo que tem de clube, que muitos. Espero que as pessoas do clube saibam reconhecer isso, porque pessoas como ele existem poucos no nosso dirigismo.


FCF- Passada a 1ª Volta da Divisão de Honra, e consultadas as estatísticas até onde se consegue obter dados oficiais das diferentes épocas, épocas 2015-16 e posteriores, que nos tem a dizer sobre os resultados obtidos até à data?


PJC- A época está a decorrer dentro dos objetivos traçados no início da competição, estamos em 14º lugar. Classificação obtida no final da época passada. Os objetivos desta época é ficarmos pelo menos na mesma classificação da temporada anterior. Estamos na 23ª jornada, ainda existem muitos pontos para disputar. O que a história do clube nos diz, é que nunca o clube, desde que se iniciou a Divisão de Honra da AFVR, na jornada atrás referida teve esta pontuação. Também existem outros recordes, que podíamos juntar. Hoje o clube já é respeitado por todos os adversários, quer jogue em casa quer jogue fora. Estamos no bom caminho, mas existe ainda um longo e difícil caminho a percorrer.


FCF- Estando já na segunda volta da Divisão de Honra, e começando logo por enfrentar equipas como o Mondinense, Régua e Sta Marta, entre outras, o que nos tem a dizer sobre o resto da época? O que nos esperará?


PJC- O calendário assim o determinou, nós temos que respeitar e cumprir o melhor possível esta fase da época. Estes são jogos, como costumo dizer, mais fáceis de disputar, porque a obrigação de ganhar e a pressão está toda do outro lado. A nós compete-nos jogar com qualidade, aproveitar estes jogos para melhorar as nossas competências, num nível de exigência maior. No fundo sairmos destes jogos vivos, mais fortes e mais capazes. Até ao final do campeonato teremos jogos em que a obrigação de ganhar e a pressão será nossa, isto se queremos evoluir e quisermos continuar a ter o respeito de todos e principalmente de nós próprios. Hoje já conseguimos jogar olhos nos olhos com qualquer adversário, em qualquer campo, sejam eles candidatos à subida ou não. Temos que ser capazes de sermos sempre um exemplo nos bons e nos maus momentos, sairmos de todos os campos de consciência tranquila. Tudo iremos continuar a fazer, para valorizar o nosso trabalho semanal. O mais importante para nós será a equipa / grupo, o resto virá por consequência desse trabalho, de exigência máxima do coletivo. Sabemos que cada vez será mais difícil, mas podem contar, que estaremos preparados e daremos sempre o máximo em todos os treinos e jogos, procurando aprender e evoluir em todos eles. Por último só pedimos, que nos deixem jogar, tenham respeito pelo nosso trabalho, não é por sermos uma equipa muito jovem que merecemos menos respeito e consideração que os outros, ou por sermos um clube mais humilde. Somos um clube quase centenário, que tem um grupo de pessoas que todos os dias se esforçam, se dedicam e muitas vezes com prejuízo das suas vidas pessoais, etc. Um grupo de jogadores jovens, que trabalha com um grau de exigência máxima, que o seu objetivo principal é evoluir para patamares mais elevados. Merecemos o respeito de todos.


O FCF agradece ao Prof Zé Carlos pelo seu trabalho desejando-lhe os maiores sucessos.

28 de Fevereiro de 2023

FCF / Monteiro deQueiroz

0 comentários:

Enviar um comentário