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domingo, 4 de julho de 2021

Barroso: o balanço de uma carreira desportiva


Tiago Barroso, antes de mais obrigado por aceitares dar-nos esta entrevista.

Ao longo dos 28 anos de carreira decerto que terás muito que contar. Podemos afirmar que a tua vida desportiva dava um livro, ou até mesmo um filme. Relata-nos um bom momento que recordes da tua longa carreira futebolística.

Tive ao longo da minha carreira vários momentos bons, uns pelos resultados desportivos, outros pelas amizades que construí ao longo destes 28 anos, mas tenho a destacar como um dos principais momentos quando sou chamado pela primeira vez à equipa sénior do SCRégua, que participava na antiga 3ª divisão. Nessa altura nem dormi no dia anterior, jogar nos seniores do SCR era o objetivo de qualquer atleta da formação.

E uma má recordação, porque de bons e maus momentos é feita a memória.

Os maus momentos são os que nos fazem crescer, tive imensos mas como costumo dizer, a experiência pode ser medida do número de vezes que erramos, pois só assim podemos evoluir. Por isso o momento que destaco não tem a ver com nenhum mau momento desportivo, mas sim com uma grave lesão de um amigo, o Carlos Felisberto, em pleno jogo Mondinense – Pedras. Foi uma lesão violentíssima que praticamente o atirou para fora dos relvados, mas que ele, com a força de superação que o caracteriza, depois de um calvário de cerca de um ano ainda conseguiu entrar no jogo do título do Mondim e se não me engano marcar o golo da vitória. Foi para mim, o pior momento que vivi enquanto atleta.

E vão duas questões difíceis as que se seguem:
Quem foi o desportista com quem mais gostaste de partilhar as quatro linhas?

É muito injusto evidenciar um jogador em milhares que conheci, por isso e para não fugir à pergunta vou ter que dizer o Paulinho, e porque me acompanhou desde os infantis até aos seniores, devo ter mais de 10 épocas com ele, e como foi dos primeiros merece este destaque.

E o que não te deixou saudade alguma?

Esta pergunta é fácil, nenhum. Não tenho qualquer problema com nenhum companheiro ou adversário, nem nunca tive, o que se passava no campo, acabava com o apito do árbitro.

Ao fim de uma longa carreira, muito desse tempo viveste-o no balneário. O que levas para a vida que tenhas trazido do balneário?

O respeito e aceitação. Somos todos atletas mas todos somos diferentes, opiniões diferentes, culturas, origens, orientações, e o balneário é um caldeirão disto tudo. Estamos numa altura que cada vez mais o preconceito e o egoísmo se faz notar na sociedade. O balneário é uma escola de vida.

Como reagiu a tua família durante todos estes anos?

A minha família foi sempre o grande suporte para que pudesse praticar a modalidade durante tantos anos, sem para que isso me desviasse do rumo dos estudos. Foi também pela família, que este ano voltou a crescer, que decidi que seria o último da minha carreira amadora.

Imaginamos que tenhas no coração um cantinho para cada um dos clubes que representaste. Fala-nos de cada um deles.

Sem dúvida, passei bons momentos e conheci grandes pessoas em todos eles.
O meu primeiro clube foi o Sport Clube da Régua, era o sonho de qualquer miúdo da cidade representar o clube da terra, foi o clube dos extremos, do melhor e do pior, mas que a quem agradeço a oportunidade que me deu em jogar futebol.
Tive depois uma passagem no clube da terra da minha mãe, FC Paços de Gaiolo, ainda no campeonato INATEL, ia com 14-15 anos jogar os jogos pelos seniores; é um clube onde jogou o meu pai e os meus tios e que por isso tem muito significado para mim.
Quando sai do SCR fui para o Mondinense, a minha primeira aventura fora, já com a responsabilidade de ser uma contratação, foi um ano excelente a nível individual mas não cumprimos o objetivo coletivo, deixei lá grandes amizades.
O GD Fiolhoso, um clube humilde mas com uma grandeza enorme, fizemos duas grandes épocas onde o mais importante era o grupo e não os resultados.
ADC Santa Marta e FC Santa Marta, dois clubes apenas uma instituição, grandes amigos e grandes pessoas, um clube que considero da terra.
ADR Tarouquense, foi a minha 2ª casa, o meu clube de coração da AFViseu. Conheci pessoas incríveis, fui campeão duas vezes, também conheci o sabor amargo da derrota, fui capitão e estou certo que deixei a minha marca naquele clube.
FCFontelas, foi o clube que escolhi e que me acolheu para o final da minha carreira, um clube de gente humilde mas com umas condições fantásticas e de enorme potencial. A nível desportivo não foi uma época memorável mas o grupo e o companheirismo é brutal, o reconhecimento que tive no final de época por toda a Direção, treinadores e jogadores demonstra muito o que é o FCFontelas que passou a ser também o meu clube.

Nestas duas últimas épocas a pandemia obrigou-nos a viver um "novo normal". De que forma esta nova realidade "mexeu" com o teu fim de carreira?

Com muitas dificuldades. A minha idade exige um trabalho continuo, neste momento preciso de mais tempo até atingir o pico de forma mas para o perder bastam dois ou três dias, as paragens a falta de competição regular não me permitiu contribuir a 100%, tendo mesmo algumas lesões pelo meio, que não foram hábito na minha carreira.
No campo do convívio entre atletas também influenciou, porque os jantares e convívios nos finais dos jogos foram nulos, e isso ajuda muito na formação do espírito de grupo. Daí destacar o grupo incrível que encontrei em Fontelas, sempre unido, apesar das derrotas não houve um único problema interno.

Com certeza que, como toda a gente, terás um número mágico que represente algo para ti. Que número é? Porquê e qual o significado?

O número 8. Foi me dado nas camadas jovens pelo mister António Guedes (Tuca). Não gostei muito no início porque como ponta de lança queria o 9 ou 10, mas depois tornou se quase um talismã e sempre que possível pedia esse número quando ia assinar. Cheguei mesmo a pagar para o ter.

Com certeza que sonhaste a forma como gostavas de ter finalizado a tua carreira. Alguma vez imaginaste um guião do teu filme "O meu fim de carreira!"? Conta-nos como seria?

O mais incrível é que nunca pensei no final nem como ia acabar, mas nem que tivesse sonhado duvido que seria melhor do que o que foi. O reconhecimento primeiro pelo FCFontelas, acompanhado pelos clubes que joguei, as centenas de mensagens que recebi não podia ter imaginado melhor final de carreira. Estou muito agradecido e feliz por ter escolhido este ano como o meu último ano como atleta.

O que sentes quando te afirmam como uma Lenda do Desporto Reguense?

Sinto que é um enorme exagero, mas ao mesmo tempo que marquei as pessoas que conviveram comigo. No campo desportivo não estou nem perto de ser uma lenda, mas espero ter dado a minha contribuição pessoal ao futebol e aos clubes onde passei.

Resume em poucas palavras a tua passagem pelo FCFontelas?

Em poucas palavras: Mais que um clube, uma família.

O que representa para ti a "cor" alviceleste?

É a cor com que em criança sonhava jogar, no meu clube de coração o FCPorto, e que a vida me deu a oportunidade de vestir no final da carreira. Azul e Branco é o coração.

O que pensas fazer no futuro em relação ao desporto?

Num futuro próximo apenas acompanharei o desporto e mais concretamente o futebol como adepto. Quando a minha vida pessoal o permitir talvez volte a ter alguma ligação mais direta, mas para já não está nos meus planos.

Gostávamos que nos deixasses para a posteridade um "pensamento" teu ligado à prática desportiva. Um "pensamento" que "te explique" e que descreva o que pensas.

Nas vitórias fazemos muitos amigos nas derrotas ficam os só os verdadeiros.

Por último, podias deixar uma mensagem aos sócios, simpatizantes, atletas, técnicos, colaboradores, funcionários e dirigentes do nosso FCFontelas?

Por muito que fizesse nunca iria ser suficiente para agradecer a esta instituição, o que me deu neste último ano. Direção, equipa técnica, jogadores, foram todos excecionais, tenho muita pena que por motivos de pandemia não poder conviver mais com os seus sócios mas hão de haver mais oportunidades. Espero que o FCFontelas tenha todo o sucesso que merece e que dê muitas alegrias aos seus sócios. Cá estarei agora como adepto a torcer por eles. O meu sincero obrigado.


Obrigado Barroso pelas tuas palavras. Desejamos-te as maiores felicidades nesta tua nova etapa da vida, assim com à tua família, e que não te esqueças de aparecer de cachecol alviceleste nos jogos do Fontelas, como já te disseram os nossos capitães. As portas estarão sempre abertas.
Bem-hajas!

"Um dia Fontelas, para sempre fontelense!" & "96 é 96!"
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4.jul.2021
Monteiro deQueiroz, Colaborador do FCFontelas

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